Em vez de ditar-se à boca
a palavra recuou
Mais graça teria
um dedo indicador
contar segredos
à superfície de uma mesa molhada
de gelo
derretendo
no canto do bar
Em vez de ditar-se à boca
a palavra recuou
Mais graça teria
um dedo indicador
contar segredos
à superfície de uma mesa molhada
de gelo
derretendo
no canto do bar
Chego atrasado como sempre faço. Largo o carro no estacionamento. Portas abertas. Quase esqueço o comprovante e levo as chaves. O filme está para começar. Ele me esperou?
Um homem, o de sempre, bonito, bem bonito, me pede um cigarro. Ele sempre me pede cigarro. Devo ter cara de fumante. Na volta passarei em uma padaria para comprar um maço. Poderemos conversar da próxima vez.
Ele não está no saguão. Entrou? Ligo. Caixa Postal. Falo com o porteiro. Nenhum homem de boné entrou na sala. A moça da bilheteria deve saber. É alto. Charmoso. Olhos verdes. Ela teria notado. Ele não veio. Mentiu? O caixa do café! Ele parece gostar de café. Parece ter o hálito de café e hortelã. O caixa só vendeu capuccinos hoje. Tem cigarro. Marlboro, por favor. Ele não veio. Teve medo. Eu é que não vou desperdiçar uma noite quente com diálogos mal-escritos. Prefiro jogar xadrez.
Na porta do cinema, o homem, o de sempre. Olha para mim e sorri.
(Continua...)